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Crónicas Bárbaras

A (pouca) cultura produzida em Portugal

07.02.23 | Nuno Tavares

Uma das coisas que mais me aborrece na sociedade portuguesa é a produção cultural. Em primeiro lugar, temos um povo muito pouco culto. O seu nível cultural, literário, cinematográfico, etc, é no geral muito baixo. Poucas pessoas lêem ou vêem produções cinematográficas, teatrais, etc, de qualidade mais elevada. Preferem geralmente a cultura fast food. Uma cultura que exige pouco pensamento, pouca dedicação. Se fizer pensar é bom que seja pouco! Queremos mexericos, entretenimento e canal. Pelo que a maior parte das produções culturais vendidas e consumidas em Portugal são deste tipo. 

No entanto, ou por consequência dos factos supracitados, as pessoas mais cultas e que produzem cultura em Portugal são em geral bastante snobs. Se, isto não se verifica como uma característica pessoal, verifica-se na sua obra literária ou cinematográfica. Este problema intensifica o problema do acesso à cultura de pessoas com baixos níveis culturais. Se, por exemplo, um livro mais sofisticado e culto for escrito vários níveis acima do nível cultural da maior parte das pessoas, então estas irão certamente ter uma grande dificuldade em perceber o conteúdo. Isto vai fazer com que as pessoas se afastem desses meios literários por serem difíceis de entender, escolhendo em contrapartida conteúdos culturais que estão ao seu nível. 

Este problema limita o progresso e o desenvolvimento de populações com menores níveis culturais. Criando um efeito de bola de neve que agrava o problema ainda mais. O problema resulta então num desfasamento entre a produção e o consumo de cultura. Assim como, num desfasamento entre o que pessoas com maior nível cultural querem produzir, e os conteúdos que pessoas menos cultas querem ver e consumir. Este desfasamento reflete-se em grelhas televisivas que dividem a população portuguesa e as levam a optar por outras formas de aceder a conteúdo cultural. 

Por exemplo, os programas culturais emitidos pela única televisão que se digna a produzir cultura, acaba a produzir conteúdos demasiado complexos e de difícil compreensão para a maior parte da população. Muitos destes conteúdos tornam-se desinteressantes, exaustivos e pouco relevantes levando o espectador a desinteressar-se por eles. 

Por seu lado, a contínua necessidade de pessoas cultas demonstrarem a sua cultura através de peças extremamente complicadas, apenas espelha a sua vulnerabilidade e a sua necessidade de autoafirmação. Estes autores acabam por produzir conteúdos para colegas de profissão ou públicos mais cultos - tornando-se assim conteúdos para um reservado número de pessoas, que no geral também não gostam do trabalho realizado. 

 

Será que algum dia conseguiremos encontrar um meio termo?

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